sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Motivo de felicidade


Em um dia lindo, em uma pequena cidade medieval. Andava um andarilho perto de um palácio a cantar. Feliz por não ser um andarilho triste.

Andarilho – Eu ando por aqui e por ali,
Sem complicações,
Todo contente, todo feliz... Lá, lá, lá, lá, lá!
Sou um andarilho feliz.

Em seu jardim o rei ouve o andarilho e caminha em sua direção.

Rei – Jovem!

Andarilho – Sim?

Rei – O que estava a cantarolar?

Andarilho – Que sou um andarilho feliz! Por quê?

Rei – Você realmente é um andarilho?

Andarilho – Sim, eu não tenho casa fixa para morar! Ando de cidade em cidade sem complicações!

Rei – Impossível... Isso é impossível! Não acredito que isso possa acontecer!

Andarilho – Acontecer, o quê?

Rei – Uma pessoa não ter casa e ser mais feliz do que eu, que tenho tudo!

Andarilho - Mas não se preocupe um dia você encontrará o motivo de sua felicidade!

Rei – Você é um jovem de bom coração?

Andarilho – Sim, eu acho! Por quê?

Rei – Poderia me doar um pouco de sua felicidade!

Andarilho – Impossível! Olha vou lhe dizer... O motivo de ter sua felicidade está de baixo de seu nariz! Tenho que ir!

Rei – Meu jardim?... Não se vá... Preciso ao menos de sua ajuda!

Andarilho – É simples! Você vê este céu limpo? Esses gramados esverdeados? Essas árvores encantadoras? E sente o cantar dos pássaros e o cheiro das tulipas?

Rei – Sim, mas claro... Mas como isso iria me alegrar?

Andarilho – Já pensou em observar cada detalhe disso tudo?

Rei – Já observei, já conheço todos os detalhes de cada dia a cada minuto!

Andarilho – Espera só um minuto... Você nunca saiu desta cidade?

Rei – É!

Andarilho – Agora entendo! Você não conhece outras paisagens! Isso aqui é só um pouco da beleza do mundo!

Rei – Preciso que me alegre! E não me chateie!

Andarilho – Tudo bem! Vou lhe contar uma piada!
“Tinha um caramujo e um esquilo conversando até que um porco-espinho aparece! E então ele resolve tirar uma com a cara do caramujo, atira-lhe uma pedra... O esquilo que é rápido segurou a pedra antes que acertasse o caramujo. O porco-espinho com raiva vira de costas e é amassado porque um andarilho tropeçou nele...”
 Há há há!

Rei – Não entendi!

Andarilho - É uma piada de andarilho! Vou explicar, o porco-espinho se ferrou e o caramujo não! Entendeu?

Rei - Agora entendi! Mas mesmo assim permaneço desanimado!

O rei procurando uma solução teve uma ótima idéia!

Rei - Já pensou em morar por essas bandas?

Andarilho – Sim, mas não tenho lugar! Por quê?

Rei – Você gostaria de ter uma casa, comida, bebida e permissão para andar por toda a cidade em troca de assistência?

Andarilho – Como assim?

Rei – Quer se tornar meu bobo da corte? E em troca te dou abrigo?

Andarilho – Não sei! Pode ser! Estou com uma fome!... Eu aceito!

O rei se animou! Pediu a sua cozinheira para preparar um ótimo almoço pra dois, para a costureira fazer um traje exclusivo para seu novo bobo, pediu para a faxineira limpar o maior quarto de visitas do palácio e lá deixar as coisas do bobo!

Andarilho/Bobo – Está animado?

Rei – Sim! Poderás dormir tranqüilo, terás comida garantida e também sapatos novos!

Bobo – Mas eu gosto dos meus sapatos velhos!
           
Rei - Mas esses machucam o pé, e são desconfortáveis! Já providenciei novos! E você tem nome?

Bobo – Não! Eu já nasci andarilho, meus pais sumiram na minha infância e então sempre fui chamado de andarilho!

Rei – Então terá um novo apelido que será bobo. Mas se eu quiser lhe chamarei de Andy! Andarilho não é nome digno a um bobo da corte!

Bobo – Estou grato por tudo! Mas uma pergunta! Qual seria minha função neste palácio?

Rei – A sim claro! Perdoe-me! Não deve conhecer o que é um bobo da corte! Simples, você poderá ficar a vontade a maior parte do tempo! Até que eu lhe chame para me animar!

Bobo – Muito interessante!

O rei se animou, mas o andarilho começou a ver aquele palácio como um mundo escuro! Vazio, sem valor algum para ele!
A noite rapidamente cai para o bobo, mas para o rei o dia foi tão longo que mau via a hora do outro dia aparecer!
À noite o bobo se batia, e tinha pesadelos, então ele acorda desesperado!

Bobo – Ai! Minha cabeça! Eu não consigo relaxar e nem dormir! Não é a cama e nem o quarto! O que deve ser?

Abriu a janela! E viu toda a cidade adormecida... Suspirando comenta!

Bobo – Que saudade...

Lá fora era um breu, mas um breu claro para o bobo! Dentro de seu quarto, três velas acesas, que deixavam o quarto com uma claridade ótima! Mas para o bobo aquilo era negro, era horrível!

Bobo – Preciso relaxar, mas não sei como! Estou sufocado! Sem ar!

Era uma noite agradável, lá fora uma brisa deslumbrante e lá dentro mal havia ar para o bobo!

Bobo – Eu quero sair logo deste lugar! Mas não posso! O rei se decepcionaria comigo! E não quero vê-lo triste! Preciso voltar a dormir! Amanhã será um ótimo dia! Eu sinto!

O bobo, com muita dificuldade volta a dormir! E na manhã seguinte, ele desce a escadaria de cuecas, se senta e come! O rei se assusta com esta cena!

Rei – Bobo! O que está fazendo?

Bobo – Tomando café da manhã oras!

Rei – Mas de cueca? Onde estão seus trajes? Margareth!

Faxineira/Margareth – Sim majestade?

Rei – Onde estão os trajes do bobo?

Faxineira/Margareth – No quarto dele majestade!

Rei – E o banho está pronto?

Faxineira/Margareth – A água está fervendo, mas as essências já estão lá!

Rei – Obrigado! Pode se retirar!

Faxineira/Margareth – Com licença!

Rei – Por favor! Nunca mais faça isso!

Bobo – Isso o que?

Rei – Descer sem tomar banho e sem estar vestido!

Bobo – Mas estou com fome!

Rei – Tudo bem, desta vez perdoarei! Mas na próxima não quero que se repita! Tome seu café e suba! Tome seu banho e desça vestido!

Bobo – Tudo bem! Perdoe-me! Poderia lhe fazer uma pergunta?

Rei – Sim?!

Bobo – Por que me tratas como um príncipe?

Rei – Por nada! Quero que se sinta bem!

O bobo desconfia de tantos agrados, toma seu café bem rápido. E sobe correndo. O rei se incomodou com a pergunta e se chateia. Chateado nem percebe que o bobo comeu suas frutas como um animal e subiu a escadaria rapidamente fazendo barulho.
Depois de uma hora o rei chama o bobo.

Rei – Bobo! Por favor! Venha até aqui!

Bobo – Sim?

Rei – Vamos à feira! Quero fazer uma caminhada!

Bobo – Tudo bem! Vou lhe mostrar um atalho pelo bosque! Você irá adorar!

Rei – Ótimo! Pode se retirar!

Bobo – Até mais!

O rei estava na frente do palácio com sua carruagem só a esperar o bobo!

Bobo – Rei? Aonde você vai?

Rei – Vamos à feira!

Bobo – De carroça?

Rei – Sim! Como iríamos? Há há há!

Bobo – A pé ué!

Rei – A pé?

Bobo – Ué, você não queria ir pelo atalho que passa pelo bosque?

Rei – Sim!

Bobo – Então teremos que ir a pé!

Rei – Mas isso seria muito cansativo para mim!

Bobo – Pensei que queria caminhar! Ir até a feira de carruagem não é caminhada!

Rei – Mas eu posso machucar meus pés com as pedras!

Bobo – Deixa de frescura!

Rei – Tudo bem! Eu vou a pé! Poderia esperar um pouco para eu guardar a carruagem?

Bobo – Deixe isso aí! Vamos logo!

Rei – Espera!

Na metade do caminho o bobo se empolga e começa a andar mais rápido!

Rei – Bobo! Espere-me! Estou muito cansado!

Bobo – Ah deixe de ladainha! Estamos perto do bosque! Anda logo!

O rei cansado avista o bobo bem longe dele, sentado de baixo de uma árvore, logo atrás um bosque lindo.

Rei – Bobo você é brilhante! Este lugar é lindo!

Bobo – Está mais feliz?

Rei – Sim! Nem sei mais o que é estar cansado depois de ver essa beleza!

O rei fica completamente feliz pela beleza que nunca avistara em seu palácio!

Bobo – Espera aí! Tem mais! Vem comigo!

Rei – Dá pra você andar mais devagar!

Bobo – Me desculpe! Às vezes esqueço que você não é costumado a andar!

Rei – Então vamos mais de vagar porque as pedras machucam meus pés enquanto os teus são calejados!

Eles chegaram à feira, felizes por terem admirado tamanha beleza. O bobo cansado e o rei empolgado. Eles caminham pela feira e compram verduras, frutas e outras coisas. Na volta o bobo avista um grande amigo.

Bobo – “Sujera”!

Rei – Onde está sujo?

Sujeira – Andarilho! Amigo! Como vai você?

Bobo – Eu estou bem! Você sumiu!

Sujeira – Eu não! Foi você, isso sim! Dá-me um abraço, velho amigo!

Rei – Bobo, solte este mendigo, vai sujar seus trajes!

Bobo – Mas rei, eu também já fui assim! E ele é meu amigo!

Sujeira – Andarilho ele é o rei? Você é amigo do rei? Você é o bobo da corte do rei? Desculpe-me majestade!

Rei – Tudo bem! Vocês foram amigos de verdade?

Sujeira – Somos amigos!

Rei – Certo! Vou deixá-los conversar!

Bobo – E então amigo, vai ficar quanto tempo por aqui?

Sujeira – Não sei, mas um bom tempo. Tem uma fazenda com milharal aqui do lado. Nessa cidade não passo tanta fome. Vou ficar por aqui até que o dono da fazenda descubra!

Bobo – Que ótimo! Bom amigo, veremo-nos por aí! Tenho que voltar ao palácio!

Sujera – Foi bom revê-lo amigo! Até a próxima! E tenham um bom dia!

Rei – Vocês se alimentavam roubando verduras?

Bobo – Sim! Não tínhamos outra maneira!

Rei – E vocês são amigos há muito tempo?

Bobo – Sim!

O rei e o bobo voltam ao palácio. O rei mal abriu a boca. Estava bravo, pois o bobo havia sujado seus trajes abraçando aquele amigo. O bobo ficou mais feliz, pois havia encontrado aquele velho amigo de infância que sumira.
Essa rotina permaneceu por uma semana. O bobo mostrando lugares novos ao rei e passavam o dia se divertindo. Até que o bobo se cansa das noites quentes e sufocantes e resolve fugir.

Bobo – Não agüento mais essa vida! É hoje! É hoje que eu fujo! Vou aproveitar que sei onde o Sujera está e virar andarilho novamente com ele. Cansei de ser bobo! Agora que o rei sabe como é estar feliz posso ir. Vou pegar minhas roupas velhas no lixão e sair pela janela.

Tudo planejado. Dito e feito, mas na manhã seguinte o rei e todos os empregados sentiram falta do bobo na casa. Até que o rei procura alguma pista no quarto e vê os trajes do Bobo em cima da cama, a cama intacta e o banheiro bagunçado, ele havia pegado toalhas para sair pela janela.

Rei – Não! E agora? O que eu faço? Ai meu deus! Onde está o bobo? Como irei ver a felicidade de novo?

O rei desesperado desce a escadaria correndo e entra na cozinha chamando os criados!

Rei – Eu quero que todos vocês cuidem muito bem do palácio, eu vou procurar Andy em algum lugar dessa cidade!

Ele, esperto, vai diretamente para a estrada onde há varias fazendas e pode achar o amigo do bobo.
Depois de um bom tempo andando sob o sol escaldante vê ao fundo uma pequena fazenda de milharal!
Destemido e determinado a achar o bobo e seu amigo entra mato adentro sem medo algum! Todo machucado por conta do mato, vê Sujera e Andy!

Rei – Andy, Sujera! Achei vocês!

Sujeira – Olá rei!

Rei – Andy por que fugiste?

Andarilho – Eu não consigo viver com tanta riqueza. Aquilo para mim não é nada.

Rei – Eu posso dar um jeito, mas eu preciso de você!

Andarilho – Mas eu não quero!

Rei – Oh! Tudo bem! Desculpe-me! Eu... Fui um egoísta!

Sujeira – Rei quer água?

Andarilho – Sei esse carinho que você tem por mim! Mas agora que eu já lhe mostrei onde tem felicidade você pode viver sozinho, sem mim!

Rei – Eu vi a felicidade quando estávamos juntos e não quando saímos pela cidade!

Andarilho – Por que me trata tão bem?

Rei – Eu já tive um filho! Com uma mulher. Era infeliz com ela, mas me sentia muito bem ao lado dele. Até que ele morreu e ela me roubou. Nunca mais fui o mesmo. E quando você me apareceu, vi a luz da felicidade que tinha com o meu pequeno Albert!

Sujeira – Oh! Coitado!

Andarilho – Meus pêsames! Desculpe-me! Mas você sabe que eu não sou seu filho!

Sujeira – Pega leve Andarilho!

Rei – Tudo bem! Mas mesmo assim obrigado! Fazia tempo que eu não tinha boa companhia.

Andarilho – Eu não fiz nada a não ser abrir teus olhos! Mas a maior força foi você quem fez de acreditar no que eu disse!

Sujeira – Acho que vou chorar!

Andarilho -... Desculpe-me... Mas não posso mais ficar ao teu lado, preciso seguir a minha vida...

Rei – Tudo bem! Até a próxima Andarilho! Adeus garotos! Tomem cuidado, e venham me visitar!

O rei voltou feliz e decepcionado ao mesmo tempo para o palácio. Feliz por saber que o Andy estava bem! E decepcionado por não ter mais aquele amigo a seu lado! Mas já sabia como achar a felicidade.
O Andarilho seguiu sua vida com seu amigo Sujera, até que um dia o rei recebe a visita do amigo do Andarilho.

Sujeira – Olá Rei!

Rei – Sujera como vai você?

Sujeira – Eu vou bem! E o senhor?

Rei – Estou bem também! E o Andy?

Sujeira – Rei, tenho que lhe contar uma coisa!

Rei – Pode dizer.

Sujeira – O Andarilho morreu, mas suas ultimas palavras foram ditas para eu dar-lhe os seus amados sapatos a você. Acho que ele se sentiu culpado em te deixar nessa imensa escuridão. Como ele comentava todos os dias.

O rei pasmo, pega a caixinha com os sapatos e ali cai uma lágrima.

Sujeira – Me desculpe! Preciso seguir minha vida! Mas ele também gostava de ti amigo!

Rei – Obrigado.

Após uma hora o rei deixou o pranto de lado e teve coragem de abrir a caixa e calçar os sapatos do Andarilho. Neste momento ele se sentiu mais feliz! Pois naqueles sapatos estavam representados os sentimentos vividos pelo Andarilho e parte de sua alma se uniu a alma do rei. A partir daí o rei nunca mais usou outros sapatos, e nunca mais os tirou.
Morreu com um sorriso no rosto. Aqueles sapados haviam representado a maior parte da felicidade dos dois. Do seu tempo de vida... O rei havia feito uma declaração antes de morrer. O herdeiro de seu enorme palácio era o reino, mas 40% foi para o Sujera, já que não havia mais ninguém para confiar. Deixou em suas mãos o gerenciamento da enorme riqueza. 40% para um louco eram muito, por isso 5% foram para cada funcionário. Mesmo 45% sendo utilizado especificamente os outros 55% seria para o reino. A herança foi dividida entre todos os pobres.
Em seu testamento deixou claro que gostaria de ser enterrado com os sapatos velhos e mais nada.

Por Bárbara Salles Diadami.

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